quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Cheiro, vergonha e receio

17:47, aproximadamente. Um homem negro, de 1,73 de altura, descalço e cheirando pinga entra no vagão de metrô paulistano onde eu me encontrava, voltando para casa do curso de francês. Não estava bêbado. Era analfabeto, ou parcialmente analfabeto: lia placas com dificuldade, sussurrava sobre os símbolos delas.

Afastava as pessoas.

Não questiono os motivos que o levaram a beber. Não questiono sua pobreza. Marxistas me crucificariam, a justiça humana também. A ética seria paradoxal. Não estou aqui para falar de classes sociais. Não é a classe que questiono.

É a falsidade.

Ele percebeu que seu cheiro causava repúdio e forçou conversa e contato. Não comigo, mas com os outros. Não são regras de educação que ele ignorou, mas instintos.

Esse rapaz fez o que muitos fazem: forçar a barra. Há certas regras de polidez que você não aprende na escola, não aprende pensando, não aprende aprendendo: são deduções. Vi, naquele rapaz consumido pelo álcool e pelos sorrisos de vergonha, meus atos forçados.

E ele tinha, no bolso, dois cigarros e, aproximadamente, 17 reais.

Desceu na Luz. Disse que ia para a Bela Vista. Não sei o que pensaram dele (...).

Eram 18:12, acho eu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Há momentos que você, mesmo sendo mente aberta, acaba por se fechar. Se condena por isso, mas é instintivo...

Guilan disse...

descalço cara, normalmente eu pegaria no pé, mas ficou mais grotesco quando você usa em uma estrofe que contém "analfabeto e semi analfabeto"

XD

Pedro Zambarda disse...

Erros grotescos ocorrem XD

Pardon, monsieur XD