quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Em 2009 o diário de bordo continua

... mesmo não sendo propriamente um diário.
... mesmo sendo uma folha branca com teorias bizarras.
... mesmo sendo uma branca rolha, com ausência de falas.

Diário que não é diário. Acho que é uma espécie de resumo retardatário.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Choro

Um dia perguntaram a um ator se ele ficava aos prantos como no palco.

Ele respondeu que era de carne e osso, que acordava desanimado às vezes,
Que tinha uns revezes, como qualquer reles, que soltava fezes sem cerimônia.

Repetiram a pergunta.

Ele disse então que não costumava chorar por Julieta,
Nem por Desdêmona,
Nem por ter sido um parricida, como Édipo,
E nem parecia o protagonista da novela das oito.

Mas disse que a namorada tinha um nome maroto
Que impedia o choro, qualquer roto sentimento.

(Ou apenas assim se posicionou)

Impossível escrever

Impossível escrever, possível pensar, impossível pensar, escrever qualquer coisa, coisa se escreve como qualquer, é impossível escrever qualquer coisa, uma coisa é possível, milhares de coisas deveria ser impossível. Visível é a falta de um diário.

Risível é a falha do ator.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre o nome

Era estranho. Desde a idade mais remota que me recordo, esse nome sempre foi esquisito. Mamãe sempre dizia que ela era chamada assim na escola, porque era do pai dela. Papai ria do fato dela ter essa palavrinha peculiar e isso foi mesa de discussões entre muitos amigos.

“Como assim italiano?” perguntavam algumas pessoas, com um ar de indignação moderado. E é sim. Italiano de Segunda Guerra Mundial, apenas um parentesco acima de minha mãe, na ordem cronológica. Não é uma descendência muito “alongada”, se é que me entendem, tipo coisa de bisneto. Mas o fato é que o nome marcou a minha vida toda. Causa risadas e algumas confusões. Acho que algumas pessoas o acham ridículo.

O fato é: determinado ano, uma senhorinha um tanto reprimida, coisa freudiana mesmo, resolveu me chamar o tempo inteiro por essa palavra. E ela não era qualquer senhorazinha, pois ela dava aulas tediosas que eu era obrigado a suportar durante um ano. Para mim, na sala de aula sempre se absorve alguma coisa, mas, ao ouvir aquele ser vociferar como se o nome fosse algo bizarro, eu realmente ficava um tanto quanto incomodado, e rancoroso, talvez.

Mas, como é coisa pra vida toda, que eu não pretendia mudar em cartório, fiquei de bico fechado. Talvez tenha dito pra ela uma ou duas vezes o que havia de errado com a bendita palavra. Mas ficou por isso.

A mulher falou tanto naquela palavra, mas tanto, que eu acabei até gostando dela.

Virou meu diferencial, meu nome único, superior.

No entanto, ainda causa risos. Sempre causará. Meu chefe não sabe falar essa palavra, e não parece querer saber. Meu irmão reduz a palavra pra virar apelido. Minha namorada dificilmente pronuncia.

Ao contrário da maioria das palavras italianas, esse sobrenome não é nada famoso.

Pedro Zambarda de Araújo
22/12/2008

Guia do novo revolucionário #3

Não te orgulharás da palavra revolucionário.

Não chamarás o semelhante de companheiro.

Não serás amoroso, se o sentimento for falso. Serás competente.

Não serás servo do sistema, serás o sistema de si próprio.

Não te basearás no discurso alheio sem estudo.

E, quando te achares muito estudado, revisarás tudo.