quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Por que eu, um homem, me interesso tanto por feminismo hoje?

Em primeiro lugar, eu não sou especialista em feminismo, eu não escrevo muito sobre este assunto, não tenho credenciais e nem vou discorrer sobre estatísticas de mulheres que apanham dos homens, são violentadas ou até mortas diariamente. Existem pessoas mais gabaritadas para falar sobre isso, e certamente não sou eu.

E este texto não vai ter relatos sentimentais e nem fotos. Só uma opinião pessoal sobre a importância deste assunto para um homem, e porque ele me incomoda de uma maneira positiva.

--

Fui um daqueles caras losers da escola. Um daqueles que reclamava que as meninas "deixavam na friendzone". No fundo, era uma desculpa que eu inventava para mim sobre a minha inaptidão para conversar com o sexo oposto. Lembro, de criança, de ter vergonha de falar sobre namoradas, embora eu tentasse sem sucesso algum. E não era culpa delas: Eu não me expressava bem o suficiente.

Não narro isso com orgulho, mas ajuda a explicar como eu cheguei no feminismo. Na faculdade, as coisas começaram a mudar e comecei a ter relacionamentos bacanas. Comecei a entender minhas inseguranças e, principalmente, a transformar situações de impasse em oportunidades para admirar, gostar ou amar alguém.

Foi uma virada na vida que me trouxe uma certa opinião mais crítica sobre minhas próprias atitudes. Vi muitos amigos meus passando por situações parecidas e se tornando mais felizes desta forma.

O problema é que homem, depois da conquista, é acostumado a se acomodar. Por isso, vi muitos namoros acabarem, recomeçarem e passarem por turbulências feias. Eu mesmo enfrentei situações similares. Se a gente surpreende positivamente as mulheres ou nossos amores em determinados momentos, o inverso também ocorre. E, desta forma, eu substitui aquela decepção da "friendzone" por problemas com algumas de minhas companheiras.

--

Deu um ano de formado na faculdade, eu conheci uma amiga que passou por um relacionamento turbulento. Saiu machucada do elo a dois e não sabia a quem recorrer. Não foi violentada brutalmente, mas não recebeu o respeito que merecia daquele homem. Ela começou falar comigo sobre feminismo. Não conhecia o assunto fui buscar saber do que se trata.

E não só me sensibilizei com a dor dela, passei a enxergar os momentos em que fui escroto com as mulheres. A palavra é exatamente esta: Escroto. Isso não significa que eu não tenha sido legal, mas é importante aprender a aceitar as decepções que você mesmo provoca.

--

A verdade é que mulher nenhuma te bota em "friendzone", como eu falava quando eu era mais novo. A menina não estava interessada em mim. Ponto. Estava no meu direito de tentar ficar, de tentar namorar, mas um não é um não. E a vida segue.

A culpa pelos meus fracassos não é de nenhuma mulher. Cada caso é um caso e não dá pra generalizar sem dar a responsabilidade que sempre me cabe.

A mulher pode mudar de ideia? Pode. Mas insistir em uma abordagem com uma garota porque só você está interessado costuma ser inconveniente. Em casos comuns, pode provocar um abuso. E um crime repugnante como o estupro, em que um homem força uma mulher a fazer sexo sem nenhum prazer, tem a ver com essa relação desigual de gêneros que a gente costuma chamar de machismo. O feminismo tenta mudar isso.

--

O feminismo não me tornou feminista. Eu ainda tenho um pênis, sou heterossexual e estou dentro de padrões que as pessoas convencionaram como "privilegiado". Mas essa onda de emancipação das mulheres provocou um incômodo positivo para mim.

Não tem a ver com fiscalizar se meus amigos machistas estão fazendo coisas escrotas. Não tem a ver com ficar me promovendo para mulheres feministas que estão sem esperanças de ver uma mudança da parte dos homens. Tem a ver com autoconhecimento.

O feminismo ampliou a opinião crítica que eu tinha a meu próprio respeito.

--

Por que eu, um homem, me interesso tanto por feminismo hoje?

Porque eu me importo com meu futuro e com o futuro das pessoas que eu amo. E isso passa por reconhecer os erros que cometi seguindo um roteiro como homem e permitindo que as mulheres se submetessem a coisas que elas não desejavam genuinamente.

Um sonho que tenho frequentemente é de ter uma filha menina, mulher. Não tenho problema nenhum se meu descendente for um menino, mas na minha imaginação, e talvez seja minha vontade, eu deveria criar uma criança do sexo feminino. Não sei o que vai acontecer, mas me coloco nesta posição.

Essa menina que terá meu sangue correndo nas veias não merece sofrer abusos de homens e nem ser criada para ser dona de casa, nem para ter roupas femininas ou mesmo para fazer algumas atividades enquanto "outras são de homem". Eu gostaria que minha filha crescesse com liberdade de escolha, amor meu e de minha esposa, e uma vontade incansável de fazer o que ela quiser neste mundo.

Quero que ela ouça as orientações da mãe dela e que ela me ouça sem se sentir numa prisão.

Um mundo livre só me ocorre com feminismo, que permite compreender minhas fraquezas e me tornar um ser humano mais forte, melhor para mulheres e homens.