sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Jornalismo #2

Escreveu, sabiamente, Raymond Williams, teórico da comunicação, em 1973:

"o especialista em comunicação se materializa em múltiplas especialidades distintas. Ele é um tipo de sociólogo, preocupado com as instituições e seus efeitos. Ele é um tipo de engenheiro, preocupado com as tecnologias e com os sistemas que é necessário planejar, entender e controlar Ele é um tipo de crítico da cultura, preocupado com significados e valores de produtos culturais (artefatos) particulares e classes de produtos culturais, desde poemas e pinturas até filmes e jornais, até prédios e moda. Ele é um tipo de psicólogo, preocupado com as unidades básicas e os padrões de interação comunicativa face a face ou no uso diferenciado de máquinas. Ou, ainda, ele é um tipo de lingüista ou filósofo da linguagem, preocupado com as formas básicas e estruturas dos atos de expressão e comunicação"

--

Só complementaria dizendo que, no jornalismo brasileiro, a gente tem que chupar cana, ouvir asneira do tipo "jornalista sabe só um pouco de tudo, não domina nada", tem que fazer o jogo hipócrita do mercado, o jogo hipócrita do idealismo e é obrigado a assumir seus erros mais do que os outros, exceto quando você tem uma enorme companhia te dando retaguarda, enquanto ela estrala o chicote nas suas costas.

Dá vontade de mudar isso tudo e nós vamos, se depender de mim. Mas não vou discursar muito (...)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Berço Esplêndido

Subi na Avenida Paulista às 7:02, saindo da estação metroviária Brigadeiro. Andando para a direita da saída próxima aos bancos, poderia chegar ao hospital onde nasci. Marchei à esquerda, rumo à Faculdade Cásper Líbero, ao meu curso rotineiro de Comunicação Social, especialidade em Jornalismo.

Sou Pedro. Tenho nome rochoso, de superfície áspera, seca, que ralada fica árida. Paulistano, paulistano de ter nascido no Hospital Santa Catarina, que não tem nada a ver com uma certa unidade da federação que é sulista, mas que se localiza na avenida que é uma coqueluche na memória de qualquer habitante desse lugar, uma avenida que revela alguns terços de nossa personalidade. Tal como essa avenida, tenho dificuldade de ler Guimarães Rosa. Por mais que digam que regionalismo mineiro, ou nordestino, ou qualquer outro, tenha sido fundamental para a formação de nosso caráter, não adianta, minha cabeça funciona feito caleidoscópio, feito mestiço que ninguém deseja ser. Ao invés de abraçar uma etnia, a minha personalidade fica meio desfigurada, meio sem expressão. Pinça algumas coisas que acredita serem fundamentais, mas não mergulha de cara em nada.

Pedro. Zambarda de Araújo. Zambarda do italiano, de Trento. Sonoridade bizarra, cansada, largada. Zambarda soa muito largado. Zambarda é zoado. Sisudo, exausto. Araújo é comum, tem traço e brasilidade claros. Comum demais para alguns, até pra mim. Vem da araúja, trepadeira com flores. Nome de planta é bonito de explicar. Bonito pois, depois de denominar, pode ser usado para comparações. É como nomes de santos ou nomes estúpidos. Você pode perder muito tempo divagando neles. Mas ainda não acho os meus tão bobos assim, embora reflitam história de meus antecessores.

Fiz 19 anos de idade hoje. Estava no meu berço, na minha faculdade, no meu hospital. Estava num possível livro que posso publicar. Estou num futuro incerto, num carinho discreto. Fiquei caminhando na "mais paulistana das avenidas paulistanas" porque tinha ocupações. Mas mergulho nesse centro, nesse meio, pois sou um dos poucos estrangeiros nativos, um dos poucos estranhos do ninho, não estou simplesmente metido nesse nicho.

Estou no berço esplêndido, mas sem dormir, como na oração cândida. Estou no útero materno, nos conselhos paternos, numa felicidade do fraterno.

Sou de um tempo conturbado, de impasse, como se o vento dispersasse. Sou de outros tempos, sou de algo fora da história, de algo que recria memória. Sou pedra, rocha que rola, som da guitarra que rosna. Sou cravo e carta. Escravo da minha arma, a liberdade.

Escrito com fragmentos de outros textos meus, não publicados, além de fatos do dia de hoje.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Reclamamos

Da falsidade, da verdade exagerada,
Do jeito como as coisas seguem uma vanguarda,
Uma caminhada incerta, vozes concretas.

Reclamamos, bradamos
Contra o ocorrido, andamos
Sem querer marcar passos,
Somos ramos que renegam
O caule, despedaçam o elmo,
Dispersam o correto.

Reclamo de muitas coisas,
Reclamo das vistas
Que não boto em mim.

Reclamo das visitas
Que não faço dentro de mim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Jornalismo #1

Fiz uma crônica sobre o jornalismo ano passado, em meados do 2º semestre.

Desde aquela época, não vejo a profissão como um ideal para salvar o mundo e domar as bactérias que o Yakult reduz. Acho que jornalismo tá muito longe de um ideal: é uma configuração e uma prática.

É um tipo de filosofia. Existem jornalistas que não se envolvem, de modo algum, com jornalismo (...).

O fato de eu me sentir um incômodo

Não quer dizer que eu fico cômodo nessa posição, sem dúvida alguma, antagônica.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Cheiro, vergonha e receio

17:47, aproximadamente. Um homem negro, de 1,73 de altura, descalço e cheirando pinga entra no vagão de metrô paulistano onde eu me encontrava, voltando para casa do curso de francês. Não estava bêbado. Era analfabeto, ou parcialmente analfabeto: lia placas com dificuldade, sussurrava sobre os símbolos delas.

Afastava as pessoas.

Não questiono os motivos que o levaram a beber. Não questiono sua pobreza. Marxistas me crucificariam, a justiça humana também. A ética seria paradoxal. Não estou aqui para falar de classes sociais. Não é a classe que questiono.

É a falsidade.

Ele percebeu que seu cheiro causava repúdio e forçou conversa e contato. Não comigo, mas com os outros. Não são regras de educação que ele ignorou, mas instintos.

Esse rapaz fez o que muitos fazem: forçar a barra. Há certas regras de polidez que você não aprende na escola, não aprende pensando, não aprende aprendendo: são deduções. Vi, naquele rapaz consumido pelo álcool e pelos sorrisos de vergonha, meus atos forçados.

E ele tinha, no bolso, dois cigarros e, aproximadamente, 17 reais.

Desceu na Luz. Disse que ia para a Bela Vista. Não sei o que pensaram dele (...).

Eram 18:12, acho eu.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Eu acredito no desacreditar

Acredito que a lógica gira e gira, rodopia em uma tortura plena.

Acredito que as armas de Aragorn, Legolas e Gmili, na obra Senhor dos Anéis, têm um significado freudiano, da tara do autor, e pode ser adaptada em outras épocas.

Acredito que as balas dos documentários sobre a violência no Rio de Janeiro não duram o compartimento do pente. Sempre aumentam o número de balas. Sangue é sexy.

Acredito que a paixão está morta. Mas é a morta mais aproveitável. Não há românticos, mas ufanistas românticos.

Acredito em amores estúpidos. Acredito em amores inteligentes. E toda a inteligência é burra, por tradição. Toda a burrice tem algum sentido e todo o sentido tem alguma burrice.

Parece inteligente momentâneamente. Só uma fatia do bolo, do espaguetti, da vida.

Acabo de espatifar a razão de alguém

E ela está puta. Mas em algum momento ela vai virar e dizer que eu tenho meu próprio ponto de vista, ou vai me convencer que eu devo acreditar na dela.

E eu acredito, piamente, que o raciocínio e a lógica não são eternos.

Mas eles vivem morrendo, pra contradizer os críticos da paixão.

Sem qualquer perdão.

Acabo de espatifar o coração de alguém

Outra hora o coração da pessoa se recompõe e ela volta a falar comigo.

Não é que relacionamentos sejam "reatáveis".
Eu simplesmente acredito que eles nunca terminam.

Eu vivo quebrado, por exemplo.

E não, isso não é ruim. Não necessariamente.

Riso feito choro (e vice-versa)

Anteontem tive um ataque epilético, ou algo menor, algo menos estético.

Algo menos diabético. Sem necessidade de médico.

Mais uma vez eu decepcionei quem estava perto de mim, assim como me decepcionaram. Nessas horas, eu revolto todos justamente por não querer me vingar, ou não querer me conformar.

Acho que estou atingindo um estágio pior do que a mediocridade. Medíocres passam, apáticos ou não, pelas pessoas, sem revelar dons nem defeitos, sem desvendar nenhum segredo. Eu cheguei num ponto do muro, exatamente no meio, no zero, no recheio, no rodeio sem cavalos, tourada sem touros. Sou um mouro, um asiático, um asmático na multidão. Não se trata de ser mais um ou não, é de não respirar. Não tem nada pior do que não respirar metafóricamente.

É a pior das dores: a que não machuca. É o pior dos desesperos: o consciente.

A pior das ignorâncias, a pior das petulâncias: é minha por eu querer ser.

É minha por eu querer ter. Não é por ser sofredor, mas criador de monstros, antros, dores.

Brigar com a namorada é de menos. Fazer show em público é o de menos. Se sentir patético no dia-a-dia é o de menos. Reprimir por ser reprimido é o de menos. Procurar a desconstrução da lógica é uma tortura. A ótica é uma ternura. Lucidez traz pânico.

E chorei, nos braços dela, "delas" e até deles. Era um choro feito riso. E vice-versa.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Ter um ídolo sem deformar a identidade

Ouço Ozzy Osbourne cantar uma versão de In My Life, dos Beatles. Todos estão carecas de saber que sua musicalidade e sua inspiração durante a carreira vêm dessa outra banda.

Coisa tipicamente britânica. Coisa tipicamente romântica.

Os óculos redondos do "Madman" não escondem sua admiração.

John Michael, Ozzy, parece muito com John Lennon.

Diferentes homens de ação.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Queria ter mais coordenação...

...pra encaixar as pontas dos dedos com perfeição entre os trastes do violão.
Para fazer as coisas sem precisar de um sermão,
Ter uma mão de quem tem um dom.

Malditos sejam os dons que ficam só nas idéias. Falam muito mal de você por trás.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Registro: Nostalgia e Saudade

Registro, de meados de outubro de 2007, de uma frase do professor de História Contemporânea I na Faculdade Cásper Líbero, José Augusto Dias:

"A nostalgia não é uma coisa boa. Ela traz o sentimento de querer viver no passado, viver coisas que são impossíveis no presente. Saudade se mata, saudade, como a palavra diz, podemos saudar, dar uma continuidade".

Lembrança construida, claro, com criatividade mental. Nem ferrando eu iria lembrar, palavra por palavra, o que ele exatamente disse. Mas, de qualquer maneira, está demarcado.

Olhos opacos

Quanto minto, quando mentem pra mim, quando nos contrariamos, os olhos parecem esvaziar, parecem flutuar sem focar, sem validar nada.

Ficam suspensos como líquido, ficam leves, levianos e raros como ácidos.

Esse estado decomposto fica consistente até alguém fazer uma piada, até alguém relevar o ponto. As relações e a rotina voltam a se solidificar.

Queria eu, embora eu saiba que não é sempre verdade, tentar deixar as coisas mais como um ficar sempre junto. Como a rocha entre os juncos, o corpo nos olhos úmidos, de choro e de conforto.

Indas e vindas

Sentindo o cheiro poluído diluído entre as árvores da Zona Norte paulistana, minha primeira morada, amada terra e símbolo.

Transito, hoje em dia, entre Paranapanema e SP. Já fiz a mesma ponte estendida até a baixada santista. São propriedades de meus pais, rituais familiares que às vezes me entediam.

Mas, no fundo, são boas essas viagens. Às vezes eu queria inverter alguns idas em vindas, em algumas vindas em idas. Não sei direito quando partir, prefiro juntar.

Gostaria não só de levar bagagens para as minhas viagens, mas pessoas, inclusive seus espíritos. Gostaria de poder compartimentar sensações. Mas, digamos que a graça da coisa é eu, de certa forma, trafegar contrariado.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Cobra sem cabeça

Era filhote, rastejava pela manhã, aproximadamente às oito horas, em busca de comida. Estava recolhida e camuflada, aproveitadora de mato alto em Paranapanema.

Foi morta com pancadas de enxada do meu pai, com a guilhotina cega da gravidade universal. Sua cabeça rolou e ela esguichou sangue e moveu suas presas. Estava demarcando seu território num local onde sua espécie não comparece.

Dizem que ela foi parar na minha casa pelas mudanças de tempo, caçadora sem medo.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O sol de Paranapanema

É limpo. O ar é limpo demais. Meu cabelo fica mais seco e mais crespo aqui do que em outros lugares. Meus horários são dúbios, minha noção fica absurda, mas as reflexões se transformam em algo maduro.

O sol é limpo. Eu que não sou. Mas não sou pura sujeira. Sou bastante das minhas besteiras. Viajo pra cá metade por causa de meus pais, metade por causa do sol, metade sem motivo.

O sol é limpo. O sol do violão está desafinado. O solista está me deixando entediado.

O concerto é desconcentrado, dissimulado. Assim é a vida.

Tanto em Paranapanema, quanto em São Paulo. O que varia é a nota, a afinação, afinidade.

Canção para mulheres casadas

"What will you do when you get lonely
and nobody´s waiting by your side?
You've been running and hiding much too long
You know it's just your foolish pride

Layla.
You've got me on my knees, Layla.
Begging darling please, Layla.
Darling, won't you ease my worried mind?

Tried to give you consolation.
When your old man, he let you down.
Like a fool, I fell in love with you.
You turned my whole world upside down."


Layla, Eric Clapton.

--

Música que ele compôs para a mulher de George Harrison, Pattie Boyd, em meados de 1970, quando ela ainda era casada com o beatle.

Embora seja uma música típica de traição, ouço desde meus 9 anos de idade. Conheci num CD Umplugged do Clapton, que tá escondido em algum lugar, por aqui.

Acho os solos de guitarra de Eric bem sinceros.

Eles falam.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Experiências bloguísticas

Antes do blog, eu utilizava fotolog para registrar imagens. Apesar de tirar fotos divertidas para as postagens, eu caprichava nos comentários e descrições. Sempre amei mais o texto, sem afirmar que a imagem seja desprezível ou inútil. Cada um cumpria seu papel nesses diários eletrônicos, mais versáteis para mim do que os de papel, que carregam minha letra garranchada e mal-acabada, quadrada e quase geométrica.

Em meados de 2005, março, pelo que estou revendo por aqui, criei um blog com o título de "Livro do Morto". Não sou gótico, depressivo e nem negativista. Bipolar sim. O nome tinha um significado que nada se liga em "morte física", mas sim a morte das coisas que criamos: toda vez que escrevo nesse novo blog, agora com outro nome, ele também está perdendo sua validade, lentamente.

Mas resolvi mudar meu conceito de abordagem. Fiz uma poesia belíssima com o nome de Livro do Morto, mas decidi batizar o meu terceiro espaço do blogger na internet com outro nome, mais adequado ao meu ser, julgo eu.

Atores são, de fato, uma comunicação mais atraente do que livros, que são tidos como monótonos, assim como esse texto de retrospectiva.

Blog antigo: aqui.

Vista do pôr-do-sol

...meu quadriciclo sem gasolina e eu suado empurrando para chegar em casa.

Paranapanema, entre 19:30 e 20 horas.

Estou comendo ameixas.

São carnudas, doces, agarráveis, dá pra brincar na mastigação. Ameixas têm uma seiva que percorre sem fazer muitos fluídos.

Degusto como se fosse um conhecimento para absorver. Consumo porque preciso emagrecer.

Comer frutas faz bem para uma pessoa sedentária, creio, humildemente.

Um dia, fiz uma poesia assim...

As luzes não mostram os berros
Daqueles que esperam
E não sentem os laços.

Nisso eu poso como ilusão
E iludido, como peça-nação
De um povo pobre
Com vislumbres do nobre.

Nisso eu cerco o ninho
E canto o hino
Fervendo espírito, cozinhando o braço
E a mão, que traziam o abraço.

Eu espanto carinhos
Com uma apresentação incrível
Querendo só assustar, esses mimos
Que eu não queria, terrível.

O mero toque já me espanta
Enquanto o que me encanta
É a minha própria pobreza
E a proeza
De me manter nessa forca.

--

Acho que estava falando do meu próprio palco pessoal, sem saber.

Original da poesia: AQUI